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09 Julho 2024

Bancos Angolanos: Resultado líquido do sector mais do que duplicou em 2023

Crescimento económico desacelera e inflação aumenta

O crescimento do PIB real de Angola desacelerou para 0,9% em 2023, face a 3,0% no ano anterior. Este abrandamento deveu-se à queda continuada da actividade no sector petrolífero (-2,4%), uma vez que a produção de petróleo continuou a ser afectada por paragens de manutenção nalgumas plataformas petrolíferas. Mais positivamente, a actividade no sector não-petrolífero continuou a crescer (4,0%) graças ao contributo favorável de sectores-chave como o retalho, o imobiliário e a agricultura e pescas. Entretanto, a inflação anual no país aumentou no segundo semestre, atingindo 20,0% em Dezembro (muito acima dos 13,9% registrados em 2022). A inflação voltou a estar sob alguma pressão devido ao impacto que a depreciação do kwanza em Maio-Junho de 2023 teve nos preços de determinados bens e serviços, nomeadamente produtos alimentares. A subida da inflação levou o banco central a apertar a política monetária no final de 2023, elevando a taxa do BNA em 100 bps (para 18,0%) e o coeficiente de reserva mínima em moeda nacional no mesmo montante.

Dados do balanço impactados pela forte depreciação do kwanza

O total dos activos dos 21 bancos que reportaram as suas contas de 2023 atingiram AKZ 21.984 mil milhões (US$ 26,5 mil milhões), um aumento de 29,9% em relação ao ano anterior. Esta evolução reflecte, sobretudo, os aumentos do montante de títulos e do crédito líquido no balanço, que representaram, respectivamente, cerca de 30% e 20% do total dos activos do setor bancário. Os números do balanço mostraram também que o total do crédito líquido aumentou a um ritmo muito mais rápido de 40,5%, após uma nova subida do crédito denominado em moeda nacional e estrangeira, tendo este último sido muito afectado pela depreciação do kwanza. O crédito em moeda nacional representou 79,8% do total do crédito (vs. 83,5% em 2022). Os depósitos registaram também um forte aumento de 30,9%, principalmente devido à forte recuperação dos depósitos em moeda estrangeira (após as quedas nos dois anos anteriores) e a outro forte aumento dos depósitos em kwanzas (representaram 60,2% dos depósitos totais). Os bancos angolanos mantiveram um baixo apetite pelo risco, com o rácio total do crédito/depósitos a situar-se em 29,5% no período (vs. 27,5% em 2022).

O rácio de NPLs deteriorou-se em 2023

Os balanços dos bancos também mostraram um aumento de 39.2% no total dos NPLs, depois de terem registado alguma melhoria nos anos anteriores. Em particular, o total de NPLs dos cinco maiores bancos em Angola correspondeu a 75,1% do total de NPL do sector, abaixo dos 80,1% do total em 2022.  De destacar os aumentos do BIC, BMA e BAI, que mais do que compensaram as quedas registadas pelo BPC e BFA. Os NPLs do BIC representaram 40.0% do total de NPLs dos 21 bancos, enquanto o BFA foi responsável apenas por 1.0% do total. De um modo geral, estimamos que o rácio de NPLs dos 21 bancos aumentou de 18,5% em 2022 para 19,2% no ano passado (o rácio de NPLs dos cinco maiores bancos aumentou de 23,0% no ano anterior para 24,5%).

Crescimento do resultado líquido graças ao forte contributo das receitas

O lucro total dos 21 bancos mais do que dobrou para AKZ 818.165 milhões (US$ 987 milhões) em 2023. Esta evolução explica-se, sobretudo, pelo acentuado aumento das receitas, nomeadamente de outros proveitos bancários relacionados com ganhos de  operações cambiais, negociação de instrumentos de tesouraria e venda de activos imobiliários. Segundo os nossos cálculos, este lucro representou um ROE de 25,2% e um ROA de 3,72%. O sector bancário angolano também se manteve bem capitalizado, com o BNA a afirmar que o rácio de solvabilidade total do sector melhorou de 28,4% em 2022 para 30,3% no ano passado.