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Bancos Angolanos: Lucro cai, apesar da melhoria do resultado operacional
21 Julho 2023

Bancos Angolanos: Lucro cai, apesar da melhoria do resultado operacional

Bancos Angolanos: Lucro cai, apesar da melhoria do resultado operacional

Crescimento económico acelera e a inflação mostra tendência de queda

A actividade económica em Angola continuou a melhorar em 2022 com o crescimento do PIB real a acelerar para 3,2%, face a 1,2% no ano anterior. Este melhor desempenho deveu-se ao crescimento nos sectores petrolífero (0,5%) e não petrolífero (4,0%), algo que aconteceu pela primeira vez desde 2012. Entretanto, ao contrário do que aconteceu na maioria dos outros países do mundo, a inflação em Angola seguiu uma trajetória descendente em 2022, depois de ter estado sob pressão nos dois anos anteriores. A inflação anual atingiu 13,86% no final do ano, ficando bastante abaixo da meta do governo de 18,0% e dos 27,03% em 2021. Esta inflação mais baixa permitiu ao banco central tornar a política monetária menos restritiva no segundo semestre de 2022. O BNA cortou a sua taxa de juro de referência em 50pb em Setembro e baixou o coeficiente de reservas obrigatórias em moeda nacional de 22,0% para 17,0%.

O balanço dos bancos foi impactado pela continuada apreciação do kwanza

O activo total dos 20 bancos que reportaram suas contas de 2022 atingiu AKZ 15.724 mil milhões (US$ 31,2 mil milhões), um aumento de 3,7% em relação ao ano anterior. Esta evolução reflecte, sobretudo, o aumento do crédito líquido e da rúbrica caixa e disponibilidades, que representaram cerca de 20% do total dos activos do setor cada. Ainda assim, os bancos mantiveram-se mais expostos aos instrumentos de dívida, uma vez que estes continuaram a representar cerca de um terço do total dos seus activos. Os números do balanço mostraram que o crédito líquido cresceu 12,4%, graças a um maior contributo do crédito em moeda nacional, continuando o crédito em moeda estrangeira a ser impactado pela apreciação do kwanza em 2022. O crédito em moeda nacional representou 85,5% do total do crédito (vs. 80,5% em 2021). Os depósitos recuperaram 5,4% após a queda no ano anterior, mantendo-se de longe a principal fonte de financiamento do sector (os depósitos em kwanzas representaram 64,6% da base total de depósitos). Os bancos angolanos mantiveram um baixo apetite pelo risco, reflectido pelo seu modesto rácio de transforçaão de 24,8% (vs. 23,2% em 2021).   

O crédito malparado continuou a cair

Os valores do balanço também continuaram a mostrar uma redução dos NPL (-32,4%) graças a uma melhoria na maioria dos bancos de maior dimensão, em particular no BPC. De notar que a queda acentuada dos NPL no BPC (-66,5%) esteve sobretudo relacionada com o número significativo de write-offs que o banco realizou no período. De um modo geral, os nossos cálculos mostraram que o rácio total de NPLs dos 20 bancos diminuiu de 26,2% em 2021 para 18,6% no ano passado e que o total de NPLs nos cinco maiores bancos continuou a representar mais de 90% do total do sector.

O lucro caiu devido à falta do efeito favorável da reversão de provisões em 2021

O resultado líquido total dos 20 bancos caiu 16,5% para AKZ 346.096 milhões (US$ 687 milhões) em 2022. Esta evolução explica-se pela ausência do impacto altamente favorável que a reversão das provisões para outros activos (após a subida do rating soberano de Angola em 2021) teve nos resultados desse ano. De facto, o sector bancário angolano registou uma melhoria significativa nos seus resultados operacionais em 2022 (57,6%) graças a outro forte desempenho do produto bancário e os custos terem ficado quase inalterados no período. No entanto, tal foi insuficiente para compensar o impacto acima referido em termos da reversão de outras provisões. No geral, segundo os nossos cálculos, o lucro líquido total destes bancos representou um ROE de 14,3% e um ROA de 2,20%. O sector bancário também se manteve bem capitalizado com o BNA a referir que o rácio de solvabilidade total do sector melhorou de 24,2% em 2021 para 28,2% no ano passado.