Idai: Ciclone abranda crescimento e obriga a interromper consolidação orçamental – Consultora Eaglestone
Lisboa, 21 mar (Lusa) - O economista-chefe da consultora Eaglestone considerou hoje que a passagem do ciclone Idai vai levar ao abrandamento do crescimento económico de Moçambique, obrigando o Governo a "interromper temporariamente a consolidação orçamental", prejudicando também as exportações de carvão.
"Estes acontecimentos deverão levar a um aumento da despesa pública nos tempos mais próximos e, assim, interromper temporariamente os esforços de consolidação orçamental necessários para reduzir os elevados níveis de dívida pública do país", disse Tiago Dionísio em declarações à Lusa sobre o impacto do ciclone Idai, que deixou um rasto de destruição no centro de Moçambique
O número de mortos confirmados na sequência do ciclone no centro de Moçambique subiu para 217, segundo dados oficiais hoje divulgados.
Numa conferência de imprensa na Beira, o ministro da Terra e do Planeamento Territorial, Celso Correia, disse que estavam ainda em risco, na quarta-feira, cerca de 15 mil pessoas.
O governante adiantou que foram resgatadas cerca de 3.000 pessoas desde quarta-feira.
"Depois do forte abrandamento da atividade económica, e de um período marcado por uma elevada volatilidade, registado após a divulgação de dívidas ocultas em Abril 2016, a economia moçambicana tem vindo a demonstrar alguns sinais de estabilização nos últimos trimestres, contudo, este trágico acidente deverá ter um impacto muito significativo na economia do país", acrescentou, prevendo que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) fique abaixo dos 3,55% e 3,4%, previstos respetivamente para este e para o próximo ano.
"As infraestruturas do país, nomeadamente as linhas de caminho-de-ferro que ligam a região de Tete (onde é extraído o carvão do país) ao porto da Beira, terão sido muito danificadas; isto poderá ter um forte impacto nas exportações de carvão, que em 2018 representaram quase 35% das exportações totais do país", disse o economista.
"A falta de alimentos e outros bens essenciais, juntamente com a possibilidade de haver alguma pressão de curto prazo sobre o câmbio do metical, poderá levar a uma subida do nível de preços nos próximos tempos, mas a taxa de inflação não deverá sair da banda de um dígito onde se encontra atualmente e, como tal, o banco central não deverá ter necessidade de aumentar a sua taxa de referência", vincou Tiago Dionísio.
Defendendo que o ciclone e os seus impactos serão "um enorme desafio para o governo", Tiago Dionísio considerou que o Executivo "tem pela frente vários temas fundamentais para o futuro próximo do país, incluindo a questão das dívidas ocultas e a renegociação com os investidores detentores destas dívidas e, também, as conversações com o FMI com vista a retomar a ajuda financeira ao país".
A passagem do ciclone Idai em Moçambique, Maláui e Zimbabué provocou perto de 400 mortos, segundo balanços provisórios divulgados pelos respetivos governos desde segunda-feira.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, decretou o estado de emergência nacional na terça-feira e disse que 350 mil pessoas “estão em situação de risco”.
Moçambique cumpre hoje o segundo de três dias de luto nacional.
A Cruz Vermelha Internacional indicou que pelo menos 400.000 pessoas estão desalojadas na Beira, considerando que se trata da “pior crise” do género em Moçambique.
O Idai, com fortes chuvas e ventos de até 170 quilómetros por hora, atingiu a Beira (centro de Moçambique) na noite de 14 de março, deixando os cerca de 500 mil residentes na quarta maior cidade do país sem energia e linhas de comunicação.
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