Angola/FMI: Ajuda externa "traz credibilidade" e pode chegar a 1,5 mil milhões - Eaglestone
Lisboa, 06 abr (Lusa) - O economista chefe da consultora Eaglestone considerou hoje à Lusa que o pedido de ajuda externa de Angola ao Fundo Monetário Internacional "traz mais credibilidade aos esforços" do Governo de Luanda para diversificar a economia.
"A implementação de um programa com o apoio do FMI traz mais credibilidade aos esforços que autoridades Angolanas estão a desenvolver no sentido do país reduzir a sua dependência do petróleo", disse Tiago Dionísio à Lusa.
O economista chefe da consultora Eaglestone, especializada em mercados africanos e com escritórios também em Luanda, diz que "a notícia não foi uma surpresa" e lembra que "os desafios que Angola enfrenta devido à forte queda no preço do petróleo nos últimos quase dois anos são bem evidentes".
Por isso, salienta, o país "não tem atualmente muitas opções senão diversificar a sua economia", o que explica o pedido de ajuda externa ao FMI, que disponibiliza verbas à medida que as políticas vão sendo aplicadas.
Para Tiago Dionísio, o valor do empréstimo pode chegar aos 1,5 mil milhões de dólares, o que representaria cerca de 1,5% do PIB que o FMI prevê que Angola tenha gerado no ano passado, o primeiro ano completo de crise petrolífera.
"Com base na análise de sensibilidade de Angola à variação do preço do petróleo, divulgada em janeiro, não me surpreenderia que a ajuda fosse no mínimo 1,5 mil milhões de dólares, e importa realçar que o nível de reservas caiu de 30 mil milhões em junho de 2014 para 24,2 mil milhões em fevereiro deste ano, ou seja, uma quebra de 5,8 mil milhões", diz o economista, realçando que esta estimativa é com base no Orçamento Geral do Estado para 2016 e tem por base a estimativa de preço para o petróleo (45 dólares) que compara com a média do preço este ano".
Assim, conclui, "os 1,5 mil milhões seriam as necessidades para garantir o défice estimado apenas deste ano, mas o programa deverá ser de três anos".
O Ministério das Finanças de Angola justificou hoje o pedido de ajuda externa ao FMI com a necessidade de aplicar políticas macroeconómicas e reformas estruturais que diversifiquem a economia e respondam às necessidades financeiras do país.
"Com o objetivo de desenhar políticas macroeconómicas e reformas que restaurem o crescimento económico forte e sustentável, de fortalecer a moldura institucional que suporta as políticas económicas, de lidar com as necessidades da balança de pagamento, e manter um nível adequado de reservas internacionais, o Governo pediu o apoio do FMI para complementar a atempada resposta ao declínio dos preços do petróleo", lê-se num comunicado do Ministério das Finanças.
O documento não anuncia qual o valor da assistência financeira, centrando-se antes na assunção de um conjunto de compromissos políticos que passam pelo aumento da transparência das contas públicas, maior diversificação económica e pela promessa de um reforço da aposta nas áreas da agricultura, pescas, minas, educação, serviços financeiros, água, serviços básicos e saúde.
As discussões deste empréstimo e do apoio institucional às políticas macroeconómicas de Angola deverão começar a ser discutidas nas Reuniões de Primavera, no final da próxima semana, seguidas de mais negociações em Angola.
No comunicado do Ministério das Finanças angolano lê-se ainda que as "discussões vão definir claramente o âmbito das medidas políticas necessárias dado os requisitos do Programa de Financiamento Ampliado [Extended Fund Facility, na expressão em inglês], com um foco forte nas reformas estruturais para lidar com as fraquezas institucionais e económicas, mantendo a estabilidade macroeconómica e financeira, libertar o potencial económico do setor privado e reduzir a dependência do setor petrolífero".